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O Deus dos candidatos morreu Antes da reforma eleitoral, que tirou o dinheiro dos empresários das campanhas políticas, qualquer candidato rezava para um Deus, no caso, o marqueteiro: o ser capaz de mudar a opinião pública por meio de seus milagres.   T...

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Políticos preparem suas máscaras as eleições chegaram

Publicado por: Redação
23/08/2016 18:14:15
Cortesia Editorial Pixabay
Cortesia Editorial Pixabay

O Deus dos candidatos morreu

Antes da reforma eleitoral, que tirou o dinheiro dos empresários das campanhas políticas, qualquer candidato rezava para um Deus, no caso, o marqueteiro: o ser capaz de mudar a opinião pública por meio de seus milagres.

 

Temendo desobedecê-lo, o candidato, com medo de ser punido nas urnas, seguia à risca todas as instruções dessa divindade quase onipotente, por mais absurdas que fossem.

 

Assim nasceram grandes vitórias e fracassos. Maluf, por exemplo, disse um dia: “se Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim”. Com isso, provou que arrependimento não mata.



Campanha política no Brasil era sinônimo de dinheiro

 

A verdade é que campanhas são verdadeiros calvários para qualquer ser humano normal. A pressão por desempenhar um bom papel, sem erros, e obter os votos necessários é muito grande. Todos têm uma opinião para dar, uma receita mágica para o sucesso, principalmente as pessoas mais próximas ao candidato. Os marqueteiros tinham que, além de fazer o trabalho deles, não deixar que outros atrapalhassem.

 


O fato é que as campanhas brasileiras assemelhavam-se às grandes produções cinematográficas: programas de televisão em alta definição, com os melhores profissionais e equipamentos; planos de governo desenvolvidos pelos economistas mais renomados do país; artistas e influenciadores envolvidos em eventos e na campanha.

 

Para pagar uma conta desse tamanho, só com a ajuda de empresários, pois o fundo partidário, apesar de polpudo, não consegue cobrir as despesas de comunicação, mobilização e de ordem política.

 

Boa parte do dinheiro que financiava o Deus acabou. Inclusive, operações da polícia federal acabaram colocando alguns deuses no banco dos réus. É provável que marqueteiros de renome nem venham mais a se envolver com campanhas, agora que a fonte secou.



Como se a tragédia fosse pouca, a barata voa. Isto é, além do fim do financiamento corporativo, o período eleitoral ficou menor e o tempo da propaganda televisiva foi reduzido para meros 35 dias.Em contrapartida, há o fim de uma limitação importante: a da exposição da pretensão de candidatura. Desde 2015, qualquer político pode se pronunciar como possível candidato a qualquer tempo. Portanto, se eu quisesse lançar minha candidatura à presidência em 2030, poderia divulgá-la hoje.

 

Reforma política: tudo o que os candidatos sabiam não vale mais

 

Na prática, o que a reforma eleitoral fez foi reduzir a importância das superproduções dos marqueteiros e aumentar a importância do trabalho contínuo. Os canais digitais dos candidatos são a nova televisão. Todo dia é dia de campanha.


Candidato que esperar o período eleitoral para fazer campanha está morto caso encontre um adversário que se preparou.

 

Em suma, tudo o que políticos aprenderam sobre comunicação eleitoral terá que ser revisto. A televisão tinha a repetição da mensagem enlatada em um visual de esperança como fórmula mágica do sucesso.


A forma de se comunicar deve mudar. A comunicação deve deixar de ser em massa para ser segmentada, algo que ainda não é bem compreendido. Por exemplo, não dá para falar de educação ou de segurança pública com jovens, profissionais e idosos da mesma forma, o que sempre foi prático na televisão.


O posicionamento midiático também precisa evoluir. No Brasil, fora exceções, candidatos sempre fugiram de questões polêmicas. Era fácil evitar falar de liberação do aborto, da descriminalização das drogas e de qualquer outra pauta que entrava em conflitos com segmentos.

 

Muitos políticos ainda pensam que quanto menor a exposição do que pensa, mais fácil será seu caminho eleitoral. Essa máxima era verdadeira quando a televisão concentrava o esforço de campanha. Nela, por pouco tempo, era possível fugir de assuntos e questionamentos.


Na web essa conduta não funciona. Internet não é televisão. Na televisão os expectadores não conseguem interagir com o conteúdo e nem escolher o que querem ver. Na internet as pessoas querem saber como o político pensa, quem ele realmente é e o que pretende. Menos frases motivacionais e mais trabalho.

 

O digital é cruel com o político que se mostra incapaz de tomar um posicionamento. A campanha de Marina Silva para a presidência em 2014 virou suco assim. Memes e vídeos mostrando a incoerência de seu discurso desconstruíram a candidata.

 

Fora isso, a web tem o poder de reviver defuntos. Aconteceu com Ciro durante a campanha política de Dilma em 2010.


Dois dias após ele assumir a coordenação da campanha petista, foi publicado um vídeo em que ele afirmava, dentre outras coisas, que Serra era melhor candidato que Dilma, que o PMDB era um agrupamento de bandidos e que o IBOPE vendia pesquisas. No dia seguinte, deixou o cargo.



Lula também foi lembrado por uma declaração sua em vídeo, dizendo ser contra o assistencialismo do governo Fernando Henrique, afirmando que projetos como o Bolsa Família eram para “calar a boca do povo com comida”.



Em outro vídeo, Bolsonaro, muito antes de imaginar-se candidato à presidência, afirma que fecharia o congresso no dia seguinte de uma possível eleição para Presidente. Isso quebra qualquer chance de captar votos de pessoas que não são doentes por ele, inviabilizando sua eleição majoritária.



Sim, caros candidatos, seu Deus morreu. Aceitem, abandonem velhos vícios e sigam em frente.

 

Por Marcelo Vitorino

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